2 de março de 2010

Pessoal e intransmissível

Escrever é usar palavras que se guardaram: se tu falares de mais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer.


Miguel Sousa Tavares, No teu deserto


Guardo-as, com todo o carinho, num espacinho, bem pequenino, para que não se percam, estas palavras, estas palavras sentidas, que poderiam ser ditas, mas que, por força do hábito, apenas habitam na minha mente e na minha escrita. Lamento se dói, este meu silêncio, mas tudo o que consigo dizer não se compara a tudo o que sinto, nem sequer se parece com aquilo que realmente habita a minha mente.


Porque acredito que o silêncio vale ouro, e que um gesto mais do que mil palavras que possa dizer, fico-me assim, sossegada, melancólica, com saudades do que nunca foi meu, com medo de perder o que nunca me pertenceu. Fico-me assim, perdida entre o querer e o ter, entre o perdido e o achado, entre o que é meu e o que poderia ser.


Este silêncio, este meu silêncio poucas vezes me ajudou, mas o silêncio, aquele que se faz acompanhar pelos momentos mais importantes de uma vida, esse tem o poder de tornar algo simples em algo memorável, que nos segue por uma vida fora, que é realmente pessoal... e intransmissível.

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